A crise da narração
Esse é o título do último livro que li semana passada. O autor Byung-Chul Han examina, de maneira aguda e perspicaz, como a sociedade contemporânea está perdendo a capacidade de criar e apreciar narrativas de maneira significativa. Foram muitos os destaques que fiz usando meu marcador de texto e trarei aqui os que mais me despertaram à atenção.
Logo de cara o autor afirma que “estamos hoje muito bem informados, mas desorientados“. Segundo ele “hoje, narramos cada vez menos histórias uns aos outros na nossa vida cotidiana. Também quase não há histórias sendo contadas nas plataformas sociais. A perda da empatia na era do smartphone é um sinal eloquente de que ele não é um meio narração. O ato de digitar ou deslizar não é um gesto narrativo. O digital permite apenas uma troca acelerada de informações“.
Longe de mim negar todas as benesses que a tecnologia nos traz, mas bem perto de ser vigilante quanto aos impactos que esta nova maneira de interação social pode nos causar. Sou uma defensora do uso das palavras, tenho em mim que elas são fontes de cura. Mas, sendo a base de uma boa narrativa o poder de escuta e uma atenção profunda, estamos perdendo a paciência para tal, infelizmente. “O olhar longo, lento e demorado se perdeu”, afirma Hun. Só é capaz de narrar aquele que contempla, assimila, vive e sente cada instante. A cada instante são produzidas milhares de informações ao redor do mundo; no entanto, esses fatos já chegam carregados de explicações e, assim, pouco nos resta para dar voz à nossa própria narrativa.
Outra abordagem super interessante feita pelo autor é sobre o conceito de storytelling, que, em sua opinião, está à serviço do comércio e do consumo, podendo ser traduzido em “storyselling, que não narram, mas anunciam“. A abordagem do autor perpassa pela ideia de que estamos iludidos quanto à um movimento de narrar histórias uns aos outros, mas na verdade o “storytelling serve apenas para instrumentalizar e comercializar narrativas“.
Para que façamos escolhas conscientes e sejamos realmente livres – liberdade, para mim, é sinônimo de bancar nossas escolhas – é preciso que cuidemos muito do nosso repertório, seja através da literatura, dos lugares que frequentamos, das companhias que escolhemos. Somente através da posse de argumentos seremos capazes de aceitar (ou não) o que nos e apresentado na enxurrada de informações que recebemos todos os dias. “Viver é narrar. A narração tem o poder de um novo começo. Toda ação que transforma o mundo pressupõe uma narração“, finaliza o autor.
Boa leitura. Depois me contem o que pensam sobre isso.
Um abraço,
Mariuche Ismerim
CEO | HOYO Brand